Dizem que as mulheres, na atualidade, tem
muitas opções de ser. Os movimentos
feministas, entre outras conquistas,
trouxeram a possibilidade de que as mulheres tivessem maior participação nos
espaços onde o poder é legitimado. A participação
das mulheres no mercado de trabalho criou novas formas de ser mulher,
especialmente no cotidiano das cidades. No
entanto, os saberes vinculados aos movimentos feministas geralmente criticam estudos
que apontam efeitos negativos para a sociedade desta “saída de casa” das
mulheres. Criticam com razão: afinal, se
o espaço da casa tem que ser cuidado, porque é a mulher que tem que fazê-lo, já
que é sabido que este destino que lhe foi imposto por muitos anos não tem nada
de natural?
Contudo, parece que hoje, tanto
mulheres quanto homens, dão pouco peso a estes efeitos negativos e desvalorizam este espaço, a casa. A casa, este lugar de repouso, onde a vida
privada acontecia, ele pode diminuir inclusive de tamanho, já que passamos tão
pouco tempo nele. Somente os ricos, e
destes os que ainda conservam aquele valor antigo de `quanto maior a
propriedade maior a riqueza´, somente estes ainda desejam casas amplas. As casas tem valor financeiro mais pelo
bairro onde estão do que pelo tamanho. Se você tem uma casa grande, aparece um logo
que diz: ´ah, é porque é no bairro,tal, tá explicado...´. Os pós-modernos sabem que uma casa
grande é um peso, desnecessário, preferindo ter a possibilidade de circular, de
se mudar, especialmente se o bairro deixar de ser “ bem freqüentado”.
A casa pequena abriga a família
pequena. Afinal, para que ter espaço
para tios, avós, irmãos e primos, se eles não o visitam, pois não tem tempo e
não querem incomodar. Para que ter muitos quartos, sala grandes se só é possível ter
um filho, e quando se pode ter, depois dos quarenta? Para que ficar em casa, já que viver é estar
no trabalho, na escola e lazer é viajar ou ir ao shopping?
A mulher não deve, não precisa mais
ficar em casa. Ela deve produzir e
consumir, mesmos direitos e mesmos deveres.
Há pouco tempo, vi um desenho
animado cujo título “Marte precisa de mães”, me fez pedir a minha filha que o víssemos,
dizendo a ela: “-Preciso ver este filme porque acho que vou para marte,
pois lá precisam de mães”. Na história, marcianas, não sabendo educar suas
filhas meninas, raptavam terráqueas que o soubessem, já que, tendo extirpado os
marcianos machos de sua sociedade, mantinham a rigidez e a ordem como
valores. Os machos eram sentimentais,
bobões, pouco racionais. Só que para
tirar a sabedoria das terráqueas matavam-nas no processo. Vi que meu lugar também não era em marte.
Estudei psicologia, carreira em
que a mulher pode conciliar carreira e família, quando não deseja ser
executiva, o que também é possível para uma psicóloga. Queria ser uma mulher maravilha, como tantas,
mas uma que ainda não fosse pós-moderna o suficiente para entregar meus filhos
a uma creche em tempo integral. Porque
não? Será que nas creches não serão mais
independentes e racionalmente cuidados, podendo estar com outras crianças já
que não podem ter irmãos ou já que não temos tempo ou oportunidade de criá-los
junto aos vizinhos, brincando na rua? Não
foi falta de feminismo, nem de vontade de ter dinheiro, nem de ser algo
interessante, importante. O problema é
que eu, além de mãe, queria cuidar das pessoas e não sei por que cargas dágua,
no inicio de minha formação, comecei a acreditar que as pessoas que mais
precisavam eram as que tinham menos dinheiro.
Dei valor aos saberes que podiam me ajudar a fazer isto, saberes que
hoje em dia, assim como as casas, tem pouco valor e trazem pouco
dinheiro. Meu trabalho, no entanto me
ajudou a criar minha filha junto a um marciano mais sensato.
Como uma velha, valorizei coisas
que limitaram minhas opções. Agora que
minha filha cresce, o que me resta se não me reinventar e ser mulher 100%
trabalho, já que isto é o que o mundo quer de mim?
Nem homens nem mulheres, agora,
podem optar estar fora deste mundo, o mundo do trabalho, sem ócio, sem casa. Será que temos realmente muitas opções de ser na
atualidade?
Irmã Teodora, Novembro 2011