Num tempo que já é passado e num lugar que não é aqui, “As Carmelitas de Escarpin” trabalhavam juntas e partilhavam o que acontecia em suas vidas. No que se referia ao trabalho, discutiam sobre os conhecimentos filosóficos, psicológicos, sociológicos e não lógicos envolvidos em suas tarefas, sempre com o rigor e a responsabilidade, fruto de árduas leituras e interpretações. Em se tratando de mulheres, as discussões de trabalho geralmente eram entremeadas de temas familiares, amorosos, de receitas, lugares visitados, chegando a política, valores, visões de mundo...

Tentando afastar-se dos melindres e rivalidades, eram vistas por alguns como um grupo isolado, “ensimesmado”. Estavam, no entanto, sempre disponíveis para falar de seus pensamentos e saberes mas sem descer do salto (leia-se conhecimento). Por isto, um crítico e saudoso amigo, as deu o apelido, que hoje faz com que, apesar da distância, queiram continuar a falar e tricotar como “As Carmelitas de Escarpin” .

Como em toda irmandade, cada uma adotou um nome de Carmelita: Irmã Miranda, Irmã Teodora, Irmã Clotilde, Irmã Jurema, Irmã Adelaide e Irmã Aurora. Entretanto, elas não querem ser desrespeitosas com nenhuma religião, crença ou opinião, afinal irmandade significa também, solidariedade, pensar e refletir coletivamente. Isso é só um jeito de deixar a brincadeira mais divertida e de reafirmar os votos de amizade e união.

A irmandade acabou por originar nossa confraria, com encontros mensais de boa comida, bons vinhos e muita conversa, possibilitando que mais amigos se unam ao grupo.

“Juramento da Carmelita”

Eu prometo escrever textos críticos e inteligentes, sobre os mais diversos assuntos, com respeito as opiniões das irmãs e as crenças, opiniões e opções dos possíveis leitores.

Evitarei usar palavras “chulas”, para não descer do salto, mesmo que a vontade de xingar seja grande.

Não tratarei de assuntos pessoais de forma direta e não usarei nomes conhecidos, sendo criativa para me fazer entender.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

New York


Nova York
Ir a Nova York é ter a sensação de experimentar, realmente, o estilo de vida metropolitano e deslumbrar-se com a exuberante arquitetura e efervescência da cidade.
Nova York, acredito, retrata como nenhuma outra cidade uma enorme capacidade de superação e de transformação. Ela é o centro da comunicação internacional, como diz Marshall Berman, um espetáculo cuja audiência é o mundo inteiro, um modo de demonstrar o que os homens  modernos podem realizar e como a existência moderna pode ser imaginada e vivida.
Procurei ver Nova York com os olhos de Berman ao me deparar com o imenso canteiro de obras na região do World Trade Center, marcada pela tragédia de 11 de setembro. Ao descrever a aventura da modernidade, tendo como tema central a expressão tudo o que é sólido desmancha no ar Berman não poderia imaginar que essa tragédia iria acontecer, sua obra é de 1982. Entretanto, o que ele relata sobre a capacidade dinâmica de superação e transformação dessa vida moderna nova iorquina no campo da economia e da cultura pode ser sentida clara e concretamente. É uma sensação única estar ali, lembrar-se do trágico e admirar-se com o processo de reconstrução, não só do espaço físico, mas principalmente, com essa criatividade transgressora de seguir adiante, criar-se de outra forma.






Nova York é surpreendente, não só pelo caos, e efervescência de seu centro nervoso, mas também pelo seu oposto, o Village, onde optamos por nos hospedar e o SoHo, com sua arquitetura antiga, cafés, restaurantes, lojas charmosíssimas, galerias de arte e a calmaria de um lugar onde dá vontade de morar.
O Village, como o SoHo, conserva uma aura do modernismo do século XIX, com suas construções horizontais, muitas em tijolos aparentes, fazendo um contraponto com o vibrante, frenético e caótico centro nervoso do mundo com seus arranha - céus super modernos.
Estar hospedada nessa região calma me permitiu – repito - olhar a cidade com os olhos de Berman. Viver a experiência de atravessar a cidade todos os dias, usando o metrô, ou caminhando. Sair da beleza bucólica e aparentemente simples que convida a permanência, a fazer parte daquele meio cultural urbano, belo e acolhedor e penetrar no caos assustador e deslumbrante com seus edifícios imensos cuja audaciosa arquitetura mexe com as pessoas, levando-as ao consumo e a refletir sobre espaço e tempo.
 Viajar é para mim um convite aos olhos, a imaginação e a degustação. Nossas noites foram reservadas para curtir bons restaurantes, de inspiração americana, como o Red Cat  e o The Little Owl; de cozinha francesa como o Jo Jo, o La Sirène e o Ai Fiore ou de frutos do mar como o Lure Fishbar, jantares maravilhosos, sempre regados a bons vinhos.   

Charles Baudelaire dizia que arte é criar uma magia sugestiva que contém ao mesmo tempo o objeto e o sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista. É esse sentimento que me arrebata ao me sentir nessa paisagem. O que me encanta e me faz refletir, o que me contagia e me transforma.
Irmã Miranda
Outubro de 2011

Um comentário:

  1. Achei seu texto ótimo, digno de inaugurar o blog, porque fala de sua experiência combinada com reflexões dos teóricos que a inspiram; acho que isto é bem a cara que queremos dar ao blog...
    Sobre sua ida a Nova Iorque, depois de provar muitas delícias da vida pós moderna e vê-la em seu mais belo templo, mesmo hospedada na calma do Soho, diga, como é voltar ao interior, para uma vida sem pressa?
    Irmã Theodora

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